quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Nas calouradas vamos gritar: “não esconderemos nossa pinta pro seu machismo passar!”

Por Joubert Assumpção (Estudante de Pedagogia UFF, Coletivo Construção Rio de Janeiro, militante do Diversitas UFF, Coletiva BeiJATO, Marcha das Vadias de Niterói)

Preta do Vale e João Protasio, 
estudantes da UFF e do Coletivo Construção-RJ

na intervenção. Foto: Diversitas UFF.
Muitas pessoas antes de entrar na universidade, acreditam que nesse espaço, onde estamos tendo a oportunidade de refletir sobre o mundo, problematiza-lo e ampliar ideias sobre algumas coisas, que não encontrarão reprodução de algumas práticas opressivas, como: machismo, racismo, homofobia, transfobia, lésbofobia, xenofoia, dentre outras, que seguem uma lógica de que existe um padrão a se seguir e quem esta fora dele deve ser corrigidx, da forma que for necessária, desde de constrangimento com piadinhas e risinhos, até chegar a agressões físicas.
Porém é uma ilusão acreditar que a universidade é vanguarda no debate sobre opressões, pelo contrário, assim como todo espaço educativo mantido pelo Estado, ela serve como instrumento para conservação do status quo, e nessa sociedade manter as relações de poder, é essencial para conservação do capitalismo onde uns estarão sempre utilizando do seu lugar de poder para explorar os outros e para dividir a classe trabalhadora.


Unificar estudantes e construir a identidade de gênero na universidade
No entanto é necessário que façamos movimentos de resistência às opressões que passamos todos os dias. Com isso temos aqui no Coletivo Construção UFF vivenciado ótimas experiências com combate a homo.lésbo.transfobia junto ao coletivo Diversitas.
Conseguimos juntar um número significativo de estudantes, para acumularmos sobre o debate entorno do homoerotismo, as possibilidades de performance de gênero, e de todas as questões relacionadas à sexualidade que fogem da expectativa que a família burguesa branca cristã cria em cima de nós.
Criamos atividades como cine debate, mesas, oficinas de cartazes e performances artísticas, denunciando as discriminações e violências, evidenciando nossas participações nos espaços e criando um ambiente onde as pessoas LGBTT se sintam confortáveis de serem livres e se expressarem com segurança.
Por esse caminho temos conseguido avançar e vemos os resultados, quando percebemos cada vez maior o número de pessoas LGBTT se sentindo confiantes minimamente para demonstrarem seus afetos nos espaços do campus, meninos usando saia no bandejão, e uma grande conquista que foi a aprovação e efetivação do uso do nome social de travestis e transexuais na UFF, depois de um grande período de negociações com a reitoria para que esse processo seja feito com respeito a pessoas trans e atendendo a todas as suas demandas.
Joubert Assumpção, do Coletivo Construção-RJ
 e Leo Arrighi, estudantes da UFF na intervenção.
Foto: Diversitas UFF.


Manter a resistência às opressões
Mas não está tudo uma maravilha, com o nosso movimento a onda conservadora se mexe também e de maneiras mais violentas. Com o início de semestre, recebemos muitas denúncias de trotes machistas e homofóbicos, que são grandes agressões à dignidade humana.
Como coletivo, ocupamos esses espaços, resistindo e mostrando que somos cidadãos de direitos, e temos que ser respeitados!
Que “lugar de travesti também é na universidade”, e que se “mexeu com uma, mexeu com todas”. Que não vamos esconder nossa pinta, pra seu machismo passar, estamos aqui pra que pintosas, fanchonas caminhoneiras, travestis, mulheres, negrxs, sejam bem vindxs à Universidade.
Que esse espaço também é nosso, e ninguém vai controlar nossa viadagem aqui dentro, e que juntxs somos muito mais fortes.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A gota que faz o copo transbordar: Caos no metrô SP chega ao limite (depoimento de um usuário)

Por André Ferrari
 Impressionante a omissão cúmplice da imprensa diante do que aconteceu no metrô de São Paulo hoje. Por isso, dou meu testemunho. Cheguei na estação Sé ontem pouco antes das 20 horas. Normalmente nessa hora é possível pegar o metrô no sentido Leste mantendo-se o mínimo de dignidade humana. Gado mesmo você se sente uma ou duas horas antes. Na escadaria, descendo para a estação, vi que havia problemas. Muita gente saia ao invés de entrar. Lá embaixo, do lado de fora das roletas, milhares de pessoas feito barata tonta. Do lado de dentro, na plataforma de embarque sentido Itaquera, o caos instalado. Milhares e milhares amontoados supostamente esperando o trem, muitos aguardando há horas. Ok, já vi essa cena antes algumas vezes. Mas, dessa vez a gota fez o copo transbordar.
 O que vi depois, pra mim pelo menos, foi inédito, principalmente tratando-se do metrô. Quantas vezes espremido no chiqueirinho da plataforma imaginei quem atiraria a primeira pedra ou chutaria a primeira lataria, quebraria o primeiro vidro e em segundos tudo viria abaixo. Dessa vez já tinha visto cacos de vidro e painéis danificados pelo caminho até a plataforma. Chegando lá vi quando o primeiro pulou, depois foi outro, mais outro. Agora outra e mais outra. Gritos, assovios, aplausos e em poucos minutos havia centenas na linha do trem, caminhando numa verdadeira passeata. Os outros aplaudiam com entusiasmo. Depois que algumas centenas já tinha sumido na escuridão do túnel em direção ao Brás, duas estações depois, onde talvez pudessem tomar o trem da CPTM, a situação se tranquilizou um pouco.
Um grupo de seguranças do Metrô se dirigiu para o túnel e fizeram um cordão dentro do vão da linha do trem para evitar que mais gente entrasse. Não durou muito. Uma galera puta da vida que veio do túnel do outro lado caminhou no sentido Brás. Enquanto isso outras centenas pulavam pra dentro da linha e uma nova passeata se formou. De repente, pra minha surpresa, começo a ouvir um coro. E não tenho dúvidas de que foi espontâneo. Confesso que tentei puxar alguma palavra de ordem, mas não rolou. Mas, do nada, as pessoas começaram a cantar: “Esse é o país da Copa! Esse é o país da Copa”! Não era zoeira de “maloqueiro” da ZL. A molecada estava lá sim. Jovens trabalhadores ferrados querendo voltar pra casa e soltando toda a raiva acumulada. Mas, havia senhoras e homens mais velhos, trabalhadores e trabalhadoras cansados de ser tratados como lixo todos os dias.
Diante da fileira dos seguranças houve muito empurra-empurra e os cacetetes baixaram pra tudo que é lado, até que alguém esvaziou um extintor de incêndio no meio do povo. Quando tudo ficou branco, a massa dispersou um pouco. Mas, a tensão ficou no ar. Empurrões, gritos e muita discussão. Nisso, o alto falante da estação começa a repetir incessantemente: “esta estação será evacuada”. Não sei de onde tiraram uma expressão tão trágica... evacuada! Alguns saiam, mas a maioria não arredava pé. Os seguranças então vieram em linha dos dois lados da plataforma tentando tirar todo mundo. Do meu lado, sem sair, busquei conversar com eles. Disse que estavam sendo tratados como bucha de canhão pra conter o povo enquanto o Alckmin, ladrão do dinheiro do metrô, estava na sua casa com ar condicionado. Todos os seguranças com quem falei concordaram e muitos pareciam bem desconfortáveis com a situação. Pararam de bater, mas continuaram cumprindo as ordens de cima.
 Pela plataforma, vi várias pessoas resistindo à tentativa de serem retiradas. Uma mulher, indignada, simplesmente sentou na plataforma e ficou lá. Mais adiante outra começou a gritar indignada e foi aplaudida. Muitos dos que saiam, quebravam algo pelo caminho. Alguém abriu a torneira das mangueiras de incêndio e a água começou a jorrar em plena plataforma. Enquanto isso ainda havia muita gente chegando até a plataforma vindos do trem parado a menos de cem metros da estação (entra o Anhangabaú e a Sé). Alguns carregados por funcionários do metrô, muitas mulheres chorando, todos pingando de suor e exaustos. Aqueles que acusam essa gente pelo caos por terem acionado o botão de emergência não deve ter ideia do que é ficar preso num trem parado superlotado, sem ar condicionado, por horas.
 No fim das contas a linha vermelha ficou paralisada e todos tivemos que sair da estação Sé. A imprensa lá em cima (identifiquei a Band e Record), filmou alguns minutos e logo foi embora. Diante das câmeras um momento de jubilo (apesar dos resquícios homofóbicos que ainda persistem até na hora da raiva contra a opressão). Um coro cantava com entusiasmo: “ei Pelé, vai tomar no cú!”. Muitos gritavam diante dos repórteres: esse é o padrão FIFA! Não acho que essas cenas serão mostradas na TV. Mas eu vi. Tive que correr pro Terminal Parque D. Pedro para ver se conseguia ir embora de busão.

Terminal lotado às 22 horas. Consegui entrar num ônibus e o assunto era o mesmo. Caos no metrô. Falei de quem era a culpa. Corrupção. Privatização. Falta de investimento. Todos os governos, Alckmin, Haddad e Dilma. Enquanto isso, gastam bilhões com a Copa e tudo mais. Alguns falaram que quebrar não adiantava. Pode ser, mas ficar quieto adianta menos ainda. O que a gente precisava era fazer como em junho do ano passado. Só que com ainda mais força e com mais organização. O povo organizado, os trabalhadores mobilizados, ninguém segura. Mas, eu não tinha um panfleto na mão! E a data do próximo Ato denunciando a Copa é só em 22 de fevereiro! Tá longe. E a luta pela tarifa zero, pela estatização do transporte e contra o “tremsalão tucano”? Essas bandeiras nem estão sendo levantadas com a força necessária. O ritmo das coisas é outro desde junho passado. Não dá pra perder mais tempo.

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