Uma
mobilização forte
A luta que tivemos esse ano na USP foi a mais
forte dos últimos anos e conseguiu coisas que até então eram impensáveis. Muitos
cursos que não têm um grande histórico de mobilização entraram com força na
luta e alguns fizeram greve pela primeira vez. Vitórias importantes em
reivindicações específicas de vários cursos aconteceram, o que já mostra que,
apesar da postura truculenta e repressora da reitoria e do governo e de sua
indisposição em dialogar, a luta é o
caminho para mudanças.
Outro elemento muito importante foi uma
ocupação que foi feita com o movimento unificado e que conseguiu ganhar
legitimidade não apenas dentro do movimento, mas em alguns setores da
sociedade. Seguidas vitórias políticas que tivemos na justiça contra a
reintegração de posse mostram a força da legitimidade e da ação unificada do
movimento, uma vez que, como sabemos de experiências anteriores, o judiciário é
um campo favorável aos adversários das mobilizações. E a força se expressou
também na relação direta entre o movimento e a reitoria. Primeiro obrigamos o
reitor a sentar para negociar com o movimento, o que há muito tempo não
acontecia. Depois arrancamos da reitoria um termo de acordo com muitos pontos
importantes, que mostrou o poder do movimento e o medo do Governo do Estado de
que expandíssemos nossa mobilização. Naquele documento, um ponto fundamental
faltava para que tivéssemos uma vitória consolidada: a garantia de não punição.
Um
debate político contra a divisão do movimento
A
partir do momento em que foi proposto o termo, o movimento, que ainda poderia
ter mais um fôlego, tendeu a se dividir e enfraquecer. É importante frisar a
diferença entre divisão do movimento e divergências políticas. As divergências
e votações não só devem ter espaço, como são fundamentais para que o movimento
avance, aprenda e chegue a novas sínteses. Porém, quando as divergências deixam
de ser discutidas em suas raízes e passam a ser debatidas em linhas gerais, os
debates vão se despolitizando e avançar a partir deles fica cada vez mais
difícil. Quando votamos, por exemplo, que não debateríamos ponto por ponto do
documento e que somente aceitaríamos ou rejeitaríamos o termo por inteiro demos
um passo nesse sentido. As disputas em linhas gerais entre dois grandes blocos
– sem possibilidades de pequenos adendos que levariam o debate a um nível
superior – acabam colocando as disputas em um nível mais moral que político.
Quando isso começou a acontecer nessa mobilização, passamos a nos enfraquecer.
Uma
lição que fica a partir disso é que é importante aprofundar o debate político
sobre as bandeiras não só no início, mas ao longo da mobilização. Isso ajuda a
evitar a divisão do movimento em posições tomadas superficialmente e, portanto,
menos politizadas.
O
ME da USP precisa se dispor a se articular de fato com os outros movimentos
sociais
A reitoria, após entregar o termo,
provavelmente por achar que com ele dividiria e enfraqueceria o movimento, se
recusou a continuar negociando. Nesse momento, vários setores do movimento
corretamente viram a necessidade de mais radicalização para aumentar nossa
pressão. Porém, nenhuma ação mais radicalizada podia dar resposta ao movimento.
O ME já estava usando uma das estratégias de pressão mais eficientes, que é a
ocupação. Maior força só poderia ser conseguida se saíssemos do âmbito dos
estudantes e da universidade e se construíssemos nosso movimento junto com
outros movimentos sociais de trabalhadores. Essa unificação poderia multiplicar
nossa força, e faria o Governo Estadual temer muito mais nossa mobilização.
Mas
o que é construir conjuntamente com outros movimentos sociais?
Alguns apoios pontuais, ações conjuntas e
diálogos entre diferentes setores da sociedade são muito importantes, como
chamar determinados movimentos sociais para debates na universidade, fazer
campanhas do ME em lugares fora da universidade, debater entre os estudantes
lutas de outras categorias ou ter alguma ação conjunta com estas. Porém, apesar
de importantes, essas ações são bastante efêmeras e não configuram de fato uma
construção conjunta. O ME da USP pode tomar iniciativas mais sólidas no sentido
de se unificar com diversos outros movimentos. Para a construção conjunta de
lutas, é importante que haja espaços de articulação, onde se debatam as pautas
comuns e as ações a serem tocadas conjuntamente. Um encontro dos movimentos de
São Paulo que debatesse o combate à repressão e o acesso à educação e ao
transporte poderia ser articulado e fortaleceria não só o ME, mas todos aqueles
que, como nós, se enfrentam com os governos. No ano de 2014, essa articulação
será ainda mais necessária, pois todos os movimentos estarão combatendo ataques
parecidos, em função da Copa. Um fórum dos movimentos em São Paulo teria um
papel importante na articulação das lutas até nacionalmente
Para lutarmos por cotas, por democratização real
da universidade e contra a violência do estado que sofremos é fundamental que estejamos junto ao movimento negro, aos cursinhos populares, movimentos da periferia e de tod@s aqueles que lutam por direitos!
As mobilizações ainda esse ano
A greve desse ano foi muito forte,
conseguiu várias vitórias particulares em alguns cursos e teve chances de
conseguir outras importantes para toda a USP. Porém, na prática, já terminou e
quase todos os cursos estão tendo aulas normalmente. A grande vitória que
tivemos esse ano foi construir um movimento que deixaria um legado
positivo para futuras mobilizações. Os avanços políticos e a força que tivemos nos
deram moral para continuar reivindicando e lutando. Porém, uma greve votada em
assembleia geral que não acontece na prática tem efeito contrário:
desmoraliza o movimento e tende a dificultar que as pessoas queiram embarcar
em novas lutas. É importante que, no momento em que estamos, quando a
greve, de fato, já não existe e não existem condições objetivas para
reerguê-la, a encerremos formalmente e tracemos, sobre a base da nossa
força atual, os rumos de novas lutas para o próximo ano.
E a
consulta para Reitor?
Porém, uma última campanha ainda é necessária
esse ano,quando acontecerá uma consulta de opinião para reitor. Essaconsulta
não terá valor oficial na eleição do novo dirigente daUSP e servirá apenas para
a burocracia legitimar uma dasquatro candidaturas apresentadas, todas
marcadamentecontrárias ao movimento e às nossas reivindicações, assimcomo
é atualmente o reitorado de Rodas. Não queremosparticipar de um processo que tem
esse intuito. Dizem quequerem ouvir nossa opinião, mas não há opção favorável
paranós. O movimento da USP não deve votar nessa consulta,dando
continuidade à importante luta que fizemos contra essesistema muito
antidemocrático de eleições para Reitor.
Em 2014: uma calourada para continuar
junho e outubro!
A calourada de 2014 precisa cumprir um papel de
preparar os estudantes para as grandes lutas que devem acontecer esse ano,
dentro efora da USP. Colocar a necessidade de conquistarmos os blocos K e
L do CRUSP, avançarmos na democratização da universidade e, além disso, termos
parte nas grandes lutas que sucederão junho. Mas não apenas preparar
individualmente cada pessoa com bons debates. A calourada deve ajudar a apontar
para a necessidade de o nosso movimento se articular mais solidamente com outros
e já trazer representantes de diversos setores das lutas para dialogar com
os novos estudantes da Universidade.
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