CONEB de 2013: Oposição de Esquerda dá um passo para a reorganização do ME de luta
O 14º CONEB (Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE), que aconteceu em janeiro de 2013, contou com cerca de 3000 pessoas, e 1800 entidades de base representadas. É um número bastante grande, mas infelizmente não reflete a realidade das lutas dos estudantes. A greve que aconteceu em 2012 ilustra esse fato. Foi uma greve histórica das universidades e institutos federais, que formou um importante instrumento de luta, o CNGE (Comando Nacional de Greve Estudantil). Esse comando, com delegados eleitos na base do movimento, mostrou que, quando de fato existe mobilização pela melhoria das universidades, o setor majoritário da UNE desaparece. Enquanto na luta real havia setores da Oposição de Esquerda (OE) da UNE, da ANEL (Assembléia Nacional dos Estudantes Livre, entidade ligada ao PSTU) e independentes ligados ao movimento, no CONEB a maioria esmagadora era de delegados da UJS (União da Juventude Socialista, ligada ao PCdoB), setor que defende as políticas do governo que sucateiam a Educação e que só entra nas lutas com a clara intenção de refreá-las.
A Oposição de Esquerda teve uma participação importante no CONEB, colocando o debate sobre a greve nacional, e a importância de os estudantes se organizarem contra as políticas educacionais do governo. Apontou bem para as contradições da UJS e PCdoB, desmascarando esse setor que se coloca como esquerda e como defensor da qualidade da Educação, mas que na verdade se vende para uma política de entrega das universidades para a iniciativa privada. Conseguimos defender juntos e de forma coerente bandeiras como:
Por uma expansão da universidades públicas com qualidade e políticas de permanência! Contra a expansão precarizada pelo REUNI;
Pelo acesso de pessoas de baixa renda às universidades públicas, e contra a transferência de verbas públicas para as universidades privadas;
Contra a entrega das universidades públicas para empresas privadas, através de Parcerias Público Privadas e Fundações;
Contra a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que privatiza os hospitais universitários;
Em defesa da greve de 2012 e do CNGE, contra os métodos burocráticos que a direção da UNE usou para abafar o movimento.
A OE, nos espaços de debate, conseguiu se colocar tanto qualitativa quanto quantitativamente, chegando a ocupar quase metade do auditório em algumas das mesas. Porém, na plenária final a história é outra. Nesse espaço, todos os delegados da UJS, inclusive aqueles que pouco participaram dos debates políticos, somam bem mais de metade da plenária, enquanto a Esquerda não passa de 10%. Sinal de que ainda precisamos melhorar nosso trabalho, expandi-lo, principalmente para as universidades privadas.
Uma juventude que nasce velha
Um grupo que tem crescido muito no ME e que mostrou nesse CONEB sua verdadeira face é o chamado Levante Popular da Juventude (LPJ, ligado à Consulta Popular). Esse grupo, que reivindica uma trajetória importante de lutas e uma relação com diversos movimentos populares, vem propondo uma bandeira de luta importante da esquerda, que é a investigação da repressão e das torturas da época da ditadura militar. Porém, em vez de fazerem dessa bandeira uma ponte com o presente e para lutar contra os ataques que sofremos hoje do governo, a usam justamente para não ter responsabilidade com as lutas atuais. É um setor que apoia cada vez mais um governo que privatiza e sucateia a Educação, e que reprime quem se mobiliza, como vimos com os confrontos violentos na UNIFESP e UFAM e com a tentativa de cortes de pontos de funcionários e professores em greve. Por fim, mostrando sua verdadeira cara, o LPJ apoiou a política da UJS na plenária final do CONEB, fortalecendo o bloco que vende e enfraquece a luta dos estudantes. A história de nova cultura do movimento, de que tanto se vangloria o LPJ, fica comprometida quando se constrói um bloco com o setor que tem as piores práticas no movimento estudantil, que é a UJS.
Unificou a Oposição!
A Oposição de Esquerda aglutina a maior referência no ME de lutas atualmente. Porém, essa referência não se dá através da OE em si, mas sim através de vários coletivos que a compõem. Isso não acontece simplesmente por uma casual falta de articulação entre esses coletivos, mas sim pela falta de disposição de construir políticas e lutas conjuntamente no dia a dia. Porém, nesse CONEB esse quadro deu mostras de mudança, e vários dos setores da OE apresentaram uma disposição para a unificação, o que é um avanço muito grande em relação aos anos passados. A plenária da Oposição mostrou a força e os avanços na política dos diversos coletivos, e apontou para a construção de campanhas nacionais unitárias e de uma coordenação política que pode garantir a coesão desse campo. A plenária foi bastante agitativa e nela muito se falou da necessidade de construirmos a OE, com material conjunto e políticas unitárias. Queremos ver isto sair efetivamente do papel. Temos pouca esperança nas reuniões entre as direções dos coletivos da OE - nessas, quase nada avança. A plenária provou que a nossa existência como Oposição de Esquerda é uma necessidade, com política comum e fóruns para além dos espaços da UNE. Então, cabe a nós transformar, até o CONUNE, o sentido das falas feitas naquela plenária em realidade, e achamos que o primeiro passo é termos um material unificado da OE para tiragem de delegados.
As falas na plenária foram muito otimistas em relação ao próximo período, e consideramos isso bastante positivo. Porém, devemos ter cuidados para que esse otimismo não recaia em velhos erros que fragmentam as lutas. A política de unidade da esquerda não pode se restringir a quem está dentro da UNE, com a meta de retomar a entidade. Pelo contrário, a OE deve se colocar um papel muito mais importante no cenário do ME nacional, e atuar como uma ferramenta para unificar cada vez mais grupos e militantes de esquerda. Como vimos com a experiência do CNGE, as lutas hoje passam em grande medida também por fora da UNE.
Por outro lado, também vimos que simplesmente romper com a UNE e criar uma entidade auto-proclamada (como é o caso da ANEL) não é suficiente para construir uma alternativa que dê respostas às necessidades das mobilizações. Superando essas duas posições, a experiência concreta da luta de 2012 mostrou que somente a unificação de todos os setores da esquerda é capaz de criar as ferramentas que o Movimento Estudantil necessita. Achamos, portanto, que a unificação da Oposição de Esquerda é um passo muito importante na reorganização nacional do ME, mas só terá consequência se lutarmos juntos pela construção de um fórum nacional que aglutine todos os setores que fazem luta contra as políticas de sucateamento e privatização da Educação. Esse fórum só se concretizará se tivermos a disposição dos vários setores que constroem as lutas para fazê-lo de forma unificada, não apenas no âmbito nacional, mas no dia a dia de cada escola, universidade e movimento de juventude. Essa unidade só se fará com muita luta política.
Por isso, queremos chamar todos os militantes e ativistas que têm disposição de lutar pela unificação dos setores de esquerda para construirmos uma frente pela unificação do ME. Propomos, enquanto ações necessárias para a construção de uma nova ferramenta dos estudantes:
- Que se faça principalmente na base do movimento estudantil, nos CA’s, DA’s e executivas e federações de curso a discussão sobre os rumos da reorganização do movimento estudantil;
- Construção de fóruns locais, estaduais e nacionais unitários da esquerda para formular ações conjuntas;
- Unidade da esquerda nas ações do movimento, e esforço para a construção de unidade em chapas de entidades;
- Construção do Fórum de Mobilização Estudantil Nacional de caráter permanente;
- Fortalecimento e continuidade de espaços de articulação criados a partir das mobilizações, como o CNGE;- Construção do 6° Congresso Nacional de Educação, proposto pelo ANDES-SN.