terça-feira, 27 de maio de 2014

UPP: Paz sem voz não é paz, é medo!

A atual política de segurança pública, ratificada em 2008 com a implantação das primeiras UPP's é uma questão que caminha ao lado do discurso de criminalização da classe trabalhadora. Alinhada e legitimada pelo cada vez mais sufocante projeto de higienização social que ocorre nas cidades do Brasil, essa política se constrói como o instrumento repressor que alavanca e de fato coloca em prática a criminalização dos movimentos sociais e da classe trabalhadora. Por meio de atuações de extrema violência onde a lei se apresenta somente ao lado do acúmulo do capital, a Polícia Militar age ao encontro dos ideais de seus antecessores históricos, os Capitães do Mato. As periferias do Brasil sofreram diretamente o impacto dessa guinada à maior repressão dada pela política de segurança pública, os genocídios da população trabalhadora aumentaram em números expressivos enquanto do outro lado havia uma crescente pressão midiática com uma avaliação positiva dessas práticas, minimizando os inúmeros crimes cometidos ao longo do processo cada vez mais intenso de aumento na violência policial.
A militarização da polícia brasileira e as práticas adotadas pela mesma são resquício dos tempos de ditadura civil-militar vivida no país. Enquanto nas jornadas de junho foi ratificado o caráter opressor dessa mesma polícia, a consciência de que nas periferias as balas não são de borracha também foi ganhando espaço. Tal consciência em conjunto com a opressão desenfreada serviu como agente catalizador de toda a revolta vista nas ruas e da radicalização das mesmas.
A polícia militar é, por essência, a instância de controle e coibição da emancipação de consciência da classe trabalhadora e a esquerda de fato deve ser unir em prol dessa bandeira, e de outras, em frentes amplas que trabalhem na conscientização dos trabalhadores e na exposição do caráter dessa política que afeta diretamente o cotidiano da população de todas as cidades. As melhoras apresentadas em percentuais dos órgãos estatais se chocam com as informações de aumento substancial nos homicídios e denúncias de abusos de autoridade.
Ainda há o aditivo, por parte da política governamental, de uma justificativa relativa à guerra às drogas. Guerra na qual o único que realmente sofre é o trabalhador brasileiro e onde o debate que deve ser feito de fato - que é o antiproibicionista, trabalhando na conscientização da população em relação ao preconceito e à desconstrução do imaginário popular guiado pelas mídias burguesas - fica esquecido e não ganha força para se opor a tal atrocidade.
E todas essas práticas são parte do projeto de cidade imposto à nós, brasileiros, sem chance de negação. O projeto, arquitetado e alavancado pelos megaeventos que irão ocorrer no Brasil, cria verdadeiras práticas de higienização social onde se contam remoções, homicídios e também questões mais gerais como a elitização dos espaços e a perda gradativa do acesso à cidade, e que legitima toda a prática de segurança pública vista nas entrelinhas das estatísticas oficiais.
A Polícia Militar nada mais é que um instrumento de higienização social no processo de elitização que é acompanhado atualmente. A mídia burguesa desempenha também um papel importante na criminalização da juventude negra, com o objetivo de o tempo todo descriminalizar os homicídios policiais e atrelar às vítimas ao tráfico (usando o discurso da guerra às drogas) ou à ilegalidade. Tais medidas desesperadas são velhos instrumentos do mesmo Estado que comanda a Polícia Militar, na tentativa de velar o verdadeiro genocídio da classe trabalhadora que acontece nas periferias de todo o Brasil. Um Estado onde a ilegalidade se calca no ser pobre, no ser negro, no estar à margem. O Coletivo Nacional Construção apoia veementemente a bandeira de desmilitarização da polícia e à luta contra a criminalização dos movimentos sociais e da classe trabalhadora.



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