quinta-feira, 27 de março de 2014

O Golpe Militar-Capitalista

Há cinquenta anos um episódio lamentável mergulhou o Brasil no seu maior retrocesso político, social, e a partir de certa altura, econômico. O golpe civil-militar que vaporizou as nossas instituições republicanas em abril de 1964 ensejou uma ditadura militar que endereçava a condução dos assuntos de Estado à uma matilha de tecnocratas com o selo de aprovação antissocialista em benefício de uma minoria milionária interessada sempre no pior que o capitalismo tem a oferecer ao povo. A nossa ditadura militar teve algumas singularidades fascinantes e vergonhosas do ponto de vista institucional: tanto o golpe que a chocou do ovo da serpente como o regime que ela conduziu contaram com a ampla presença — e participação — de tudo que a sociedade civil nutria de menos democrático; ao mesmo tempo foram poucos os ditadores que durante o regime gozaram de poder absoluto sobre as forças nascidas da mesma Caixa de Pandora que lhes colocara no poder.

 Os cinco generais-presidentes que encabeçaram o condomínio de interesses macabros por 21 anos só puderam manusear o cetro real na medida em que se movimentavam a favor dos mecanismos de sustentação do golpe: a domesticação da sociedade civil, a abordagem antipopular dos problemas nacionais, o anticomunismo extremista como instrumento de controle cultural, a militarização da crise social que avassala o País há séculos, e inversão dos papéis institucionais do Estado. Esses mecanismos se combinaram de acordo com a convergência de interesses conservadores e reacionários que produziram o consórcio do golpe. Domesticar a sociedade civil atendia à ideologia autoritária daqueles militares que esperavam uma paz social decretada de cima pra baixo para a correta administração do País, e também do empresariado que, num audacioso golpe para vencer a luta de classes, preferia ver militares usurpando o Direito para neutralizar agitadores sociais e trabalhadores conscientes do que aceitar a participação dos mesmos na condução dos destinos políticos.

A abordagem antipopular dos problemas nacionais brotava do preconceito de décadas que os militares brasileiros nutriam contra o comunismo, identificado como gatilho de qualquer proposta de poder popular, e também da tendência essencialmente antidemocrática de um empresariado que pode alegar gostar de democracia num banquete de sócios, mas sabe em seu âmago que a maneira mais fácil de obter lucros é prestando o mínimo de contas possível à população. E o Brasil, nessa ótica, é pouco mais do que uma máquina de fazer lucros.

O anticomunismo extremista como instrumento de controle social fazia as delícias de uma Igreja que associava comunismo com a subversão dos valores da família cristã, de uma corporação convencida de que qualquer ideia de vanguarda é produto do movimento comunista internacional, e de uma classe média moralista sem coragem de se opor às elites mais soberbas, porém, disposta a se consolar com o patético papel de vigilante dos bons costumes e de guarda pretoriana da mais retrógrada das morais cívicas. Feito do comunismo um rótulo capaz de abarcar tudo de culturalmente perigoso, verdadeiros tarados foram elevados às funções mais decisivas de produção intelectual e artística no País, sob o pretexto de que a voracidade destes era uma arma indispensável no combate à subversão.

A militarização da crise social que avassala o Brasil há séculos saciava aquela mínima porcentagem de milionários brasileiros temerosos da possibilidade da ralé se apropriar de qualquer medida de fatia do volumoso bolo da riqueza nacional, dos empresários estrangeiros localizados no Brasil que monopolizavam setores da economia, receosos de qualquer mudança de regras capaz de beneficiar a democracia em seu prejuízo, e daquela ascendente classe média que sonhava com a possibilidade de auxiliar as aves de rapina do capital estrangeiro a fincar suas bandeirinhas sobre nossa economia em troca de algumas migalhas. Nessa correlação de forças, botar o Exército para desmobilizar o povo faminto e explorado sairia sempre mais barato que negociar com o mais pelego dos representantes das classes trabalhadoras.

A inversão dos papéis institucionais do Estado ia ao encontro das preocupações do Departamento de Estado norte-americano, dos pudores da classe média anticomunista e das necessidades práticas dos lobistas do poder na nova ordem. Os verdadeiros motivos de combate ao comunismo sempre foram egoístas para a coalizão conservadora, mas para ampliar o apelo de manobra tão delicada era necessário lançar mão da retórica pró-democrática que compensava em histeria o que lhe faltava em propriedade e profundidade. Assim, para conservar a fachada de regime democrático, o Congresso brasileiro não foi fechado, a não ser em ocasiões específicas — mas foi plenamente esvaziado de suas funções públicas (praticamente incentivado, portanto, a inventar funções privadas).

O multipartidarismo não deu lugar ao fascismo monopartidário, mas a um bipartidarismo cínico que reservava ao situacionista os louros da vitória e ao oposicionista os ônus das crises. Isso maquiou a real situação de criminalização da diversidade política da nação e facilitou o desencanto popular com os instrumentos partidários. O Judiciário manteve algumas prerrogativas de independência, mas elas foram tão vagas e tão inúteis no destino da sociedade que esse poder acabou se encastelando cada vez mais, tornando o acesso à Justiça no Brasil um dos mais bloqueados do mundo industrial. Tudo era permitido à sociedade civil e aos poderes da República contanto que beneficiasse os que estavam no poder, e tão logo que eles se mostrassem incômodos, como na vitória contra a cassação de Márcio Moreira Alves em 1968, ou na espetacular vitória do MDB nas eleições de 1974, em breve eram esvaziados de sentido, importância e possibilidades.

 A ditadura aniquilou tantas instituições que não conseguiu respeitar nem as que ela própria criou — isso ficou visível em 1969, quando o próprio processo de escolha do Presidente que o regime criou foi atropelado e a própria Constituição criada havia menos de dois anos foi quase inteiramente revogada. Essa sórdida combinação de interesses diabólicos com suas aspirações particulares e que necessitava de uma horrível combinação química para atingir seus objetivos se explica pela própria formulação do golpe. Ele nasceu de várias cabeças e foi desempenhado a várias mãos. O IPES, Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais, teve a função de reunir os militares golpistas que desde 1954 perseguiam o pálido centro-esquerdismo de João Goulart com o empresariado que não poderia se lançar sozinho contra a República num golpe de mão. A intenção do IPES era assumir onde o IBAD havia parado. O Instituto Brasileiro de Ação Democrática fora criado em 1959 para arrecadar fundos estrangeiros e nacionais — mas sempre clandestinos — para derrotar a esquerda nas urnas, mas o seu sucesso limitado em 1962 levou seus sócios a buscarem vitórias no tapetão, reunindo empresários da mídia, golpistas profissionais, agentes estrangeiros, e militares reacionários. O fim de março e começo de abril de 1964 registrou o maior nível de unidade da direita brasileira em qualquer ponto em sua História — talvez comparável apenas a outubro e novembro de 1989. O resultado foi particularmente triunfante porque não só não se registrou unidade similar das esquerdas, como elas estavam particularmente desagregadas em virtude dos 464 anos de relativa semiclandestinidade que lhe espremeram o bom senso e a capacidade para trabalhos coletivos.

A ditadura só foi embora após reverter a esquerda a estágio similar de precariedade política e até mesmo teórica. Não conquistamos muita coisa desde então, a não ser a possibilidade de superarmos essas limitações históricas com um acúmulo considerável de experiência que pode nos levar a um estágio mais avançado na luta de classes, conquanto nos mantivermos sagazes e maduros, a fim de que nossa diversidade não se degenere em divisionismo por conta das nossas inseguranças e pequenas questões particulares.

Mas, mesmo a ditadura em si tendo um fim, até hoje permanecem muitos resquícios da mesma na política e no estado brasileiro. Além disso, paira uma sombra – ou uma censura – sob o período nos capítulos da história brasileira, pois não há condenação dos criminosos da época e mesmo a verdade sobre o período ainda é revelada a conta-gotas, com a comissão da verdade só tendo sido instituída recentemente e ainda com muitas limitações.

Ainda há muita luta a se fazer para combater as conseqüências e resquícios da ditadura militar, para eliminar este fantasma ainda bastante presente que até hoje cega e censura a consciência da classe trabalhadora.

É preciso abrir todos os arquivos e desnudar o que ocorreu naquele período. Porém, é preciso também punir exemplarmente todos os políticos, policiais, militares, empresários e civis que contribuíram com o regime e seus crimes.

A polícia militarizada, autoritária, racista, machista, homofóbica, repressora e assassina que temos hoje é também uma herança maldita deste período. A luta que cresce hoje pela desmilitarização da polícia é de extrema importância e tem o apoio do Coletivo Construção.

É essencial reivindicarmos a democratização da mídia e quebrar esse modelo oligopolizados que nasce do monopólio da globo, que foi criada por investimento de uma empresa americana visando edificar um aparelho de dominação ideológica e apoio ao governo anticomunista que se instalava. Neste sentido é crucial que defendamos a luta pela democratização da mídia, quebrando com a dominação ideológica imposta pela burguesia e dando aos trabalhadores acesso aos veículos de comunicação de massa.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Coletivo Construção presente no Encontro Nacional do Espaço Unidade de Ação!

Por Felipe Alencar (Estudante de Pedagogia da Unifesp, Coletivo Construção-SP)

As jornadas de junho em 2013 ficaram para a história. A juventude, o povo e os trabalhadores mostraram aos patrões e governos que querem o atendimento de suas reivindicações.
O ano de 2014 já começou com muitas lutas estourando: rolezinhos, revoltas populares nos bairros periféricos, manifestações dos movimentos populares na luta por moradia, atos contra o aumento da passagem, greve dos trabalhadores das universidades, dos Correios, a histórica greve dos garis do Rio de Janeiro, e, claro, contra a Copa do Mundo.
Nós, do Coletivo Construção, refletimos sobre as lições das jornadas de junho que, apesar de terem sido lutas massivas e combativas, elas ocorreram de forma fragmentada. E já apontamos a importância de organizarmos um Encontro Nacional dos Movimentos em Luta que possa traçar um programa unitário para dar um passo qualitativo e coletivo para os momentos de luta que teremos no Brasil, principalmente durante a Copa.
Parte desse processo se dará no Encontro Nacional do Espaço Unidade de Ação, que ocorrerá no dia 22 de março de 2014, em São Paulo.
Convocado pela CSP-Conlutas, A CUT Pode Mais-RS, a Feraesp e o setor majoritário da Condsef, esse encontro tem como objetivo avançar na construção da unidade para fortalecer as lutas que estão em curso e que virão, bem como para buscar a unificação dos calendários e bandeiras e realizar grandes manifestações durante o período da Copa do Mundo. Nós assinamos a convocatória com mais 25 entidades, sindicatos e coletivos.
Com a realização deste Encontro Nacional, será dado um importante passo para a construção de uma alternativa política para o país. Para nós, devem ser priorizados quatro eixos da luta: tarifa zero no transporte coletivo, contra os despejos e demais consequências sociais da Copa do Mundo, mais investimentos em saúde e educação e o fim da criminalização dos movimentos sociais.
O Coletivo Construção sinaliza a importância de que este espaço dê fôlego para organizar outro Encontro mais amplo, que possa traçar um programa para além da Copa e a importância de uma greve geral de 24 horas, que paralise a produção num dia nacional de lutas da juventude, dos trabalhadores e do povo oprimido. 

Da Copa eu abro mão! Quero dinheiro pra saúde, educação, transporte e moradia!
Por um Encontro Nacional dos Movimentos em Luta!
Por uma Greve Geral de 24 horas!

Acesse a convocatória do Encontro assinada pelas entidades convocantes aqui

Leia abaixo a convocatória:

Reforçar a unidade para fortalecer a luta
BASTA DE PRIVILÉGIOS PARA A FIFA, GRANDES EMPRESAS E BANCOS! QUEREMOS SAÚDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE PÚBLICO, MORADIA, REFORMA AGRÁRIA E RESPEITO AOS DIREITOS DO POVO
O país se prepara para a Copa do Mundo em meio à expectativa de quem vai ser o novo campeão do futebol. Mas todo o espetáculo da mídia não esconde uma certeza: o Brasil vai se consagrando como campeão da desigualdade, injustiça, exploração e violência contra seu próprio povo.

Em junho passado vivemos um processo de mobilização social, com a juventude à frente, contestando o estado de coisas que somos obrigados a suportar: o caos da saúde pública, o descaso com a educação, a precariedade do transporte público. As autoridades fizeram discursos e promessas. Mas nada mudou.

Os governantes sempre alegam que falta dinheiro para investir e melhorar os serviços públicos. Mas, para os poderosos, nunca faltam recursos públicos. A Copa do Mundo é só mais um exemplo disso. Bilhões e bilhões de reais estão sendo despejados na construção de estádios e nas mãos de empreiteiras. Impostos são reduzidos para grandes empresas, benefícios são concedidos para os bancos e o agronegócio.

Enquanto isso, remoções forçadas estão ocorrendo nos grandes centros urbanos. Na periferia das grandes cidades a única presença visível do Estado é a da polícia, promovendo um verdadeiro genocídio contra a juventude pobre e negra. O povo pobre precisa ocupar terrenos para buscar o acesso à moradia.

Um processo de privatizações gigantesco está em curso.  O petróleo, portos, aeroportos, estradas, metrô, ferrovias e hospitais universitários estão sendo entregues pelo governo Dilma\PT a preço de banana para o capital privado. E, ao contrário da propaganda oficial, os recursos daí advindos não vão para a educação nem para a saúde.

O sucateamento dos serviços públicos atinge fortemente os servidores das três esferas de governo, que se veem desvalorizados e desrespeitados.

No campo, as grandes empresas do agronegócio, em sua maioria multinacionais, assumem o controle das terras, produzindo para exportação, enquanto o alimento fica mais caro em nosso país. Massacram trabalhadores assalariados, destroem a agricultura familiar, dizimam povos indígenas, atacam comunidades quilombolas. E tudo isso com apoio e financiamento dos governos.

Dentro da classe trabalhadora, as mulheres, negros e negras e LGBTs sofrem ainda mais, pois estão também sujeitos a toda sorte de discriminação e violência. O Brasil é um dos países onde mais se matam LGBTs no mundo; a violência contra a mulher aumenta a olhos vistos; quilombolas e povos indígenas seguem tendo seus direitos originários desrespeitados.

As mobilizações dos trabalhadores e demais segmentos são violentamente atacadas pela polícia. Há um processo de criminalização dos ativistas e jovens lutadores, com inquéritos policiais e processos judiciais que já atingem milhares de pessoas, ataques ao direito de greve e manifestação. Até o “rolezinho” dos jovens da periferia em shoppings está sob a mira dos patrões e sua justiça.

Essa situação não é obra do acaso, é fruto, principalmente, da ganância dos grandes empresários que controlam essa sociedade capitalista em que vivemos. Mas é também resultado de que os governos que temos no país. Os governos estaduais (PSDB, PMDB, DEM, PSB) tratam jovens e trabalhadores que lutam como bandidos e caso de policia. Infelizmente o governo Dilma segue o mesmo caminho, criminalizando os movimentos nos estados e colocando forças militares federais também a serviço da repressão das “forças oponentes”, como diz portaria do Ministério da Defesa.

NA COPA VAI TER LUTA!
Chega de dinheiro para a FIFA, grandes empresas e bancos
Recursos públicos para saúde, educação, moradia, transporte público e reforma agrária!
Basta de violência e de criminalização das lutas populares! Ditadura nunca mais!

A mudança deste cenário só virá com a luta dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre. Precisamos voltar massivamente às ruas, de forma organizada e tendo clareza de objetivos. Esse é o caminho para acabar com os abusos e a exploração a que estamos submetidos. É com união, organização e luta que vamos derrotar os ricos e poderosos.

A luta este ano já começou. Está em curso a campanha nacional servidores públicos federais, trabalhadores em educação preparam suas lutas nos estados, o mesmo ocorrendo com diversas outras categorias. Diversas ocupações urbanas estão em curso e operários lutam em defesa dos empregos na GM. Estão sendo preparadas as manifestações do dia internacional da mulher e em protesto aos 50 anos do golpe militar de 1964.

As entidades que assinam essa nota convidam a todas as organizações e movimentos sindicais, populares, culturais, da juventude de luta contra as opressões, que compartilham essa mesma compreensão para um encontro do mês de março. O objetivo é avançar na construção da unidade e organização para fortalecer as lutas que estão em curso e para buscar a unificação de calendários e bandeiras para uma grande jornada de mobilizações em junho/julho, durante a Copa do Mundo.

Precisamos articular essas lutas e voltar às ruas, realizando neste período grandes mobilizações sociais em todo o país. Vamos mostrar ao mundo a realidade escondida pela propaganda oficial mentirosa dos governos e da mídia. Vamos mostrar aos governos que não aceitamos a continuidade desta situação. Vamos mostrar aos bancos e grandes empresas que seus privilégios não podem continuar.

CHEGA DE DINHEIRO PARA A COPA, FIFA E PARA AS GRANDES EMPRESAS! RECURSOS PÚBLICOS PARA A SAÚDE E EDUCAÇÃO! 10% DO PIB PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA, JÁ! 10% DO ORÇAMENTO FEDERAL PARA A SAÚDE PÚBLICA, JÁ!

CHEGA DE DINHEIRO PARA OS BANCOS! SUSPENSÃO IMEDIATA DO PAGAMENTO DAS DÍVIDAS EXTERNA E INTERNA! DINHEIRO PARA A MORADIA POPULAR E PARA O TRANSPORTE COLETIVO! TARIFA ZERO JÁ! TRANSPORTE E MORADIA SÃO DIREITOS DE TODOS!

CHEGA DE ARROCHO SALARIAL E DESRESPEITO AOS DIREITOS DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS! FIM DO FATOR PREVIDENCIÁRIO! AUMENTO DAS APOSENTADORIAS! ANULAÇÃO DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA DE 2003 E DO FUNPRESP!

RESPEITO AOS DIREITOS DOS TRABALHADORES ASSALARIADOS DO CAMPO E AGRICULTORES FAMILIARES! REFORMA AGRÁRIA E PRIORIDADE PARA A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS PARA O POVO!

CHEGA DE PRIVATIZAÇÕES! REESTATIZAÇÃO DAS EMPRESAS PRIVATIZADAS! PETRÓLEO E PETROBRAS 100% ESTATAL! ESTATIZAÇÃO DOS TRANSPORTES!

BASTA DE MACHISMO, RACISMO E HOMOFOBIA!

BASTA DE VIOLÊNCIA, REPRESSÃO E CRIMINALIZAÇÃO DAS LUTAS SOCIAIS! DESMILITARIZAÇÃO DA PM!  ARQUIVAMENTO DE TODOS OS INQUÉRITOS E PROCESSOS CONTRA MOVIMENTOS SOCIAIS E ATIVISTAS! LIBERDADE IMEDIATA PARA TODOS OS PRESOS! REVOGAÇÃO DAS LEIS QUE CRIMINALIZAM A LUTA DOS TRABALHADORES E DA JUVENTUDE! DITADURA NUNCA MAIS!

Convocam:
CSP-Conlutas
A CUT Pode Mais (RS)
Feraesp
Setor Majoritário da Condsef
Fenasps
Andes-SN
Sinasefe
FNTIG
FNP
Conafer
Cobap
Asfoc
Sindicato dos Metroviários de São Paulo
CPERS
Simpe (RS)
APCEF (RS)
Sindserf (RS)
Sindjus (RS)
Sindicato dos Aeroviários (RS)
Anel
MTL
Luta Popular
Quilombo Raça e Classe
MML
Coletivo Construção
Juntos




quinta-feira, 6 de março de 2014

GREVE DOS GARIS DO RIO DE JANEIRO: BALANÇO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Por Bruno Ruivo (Coletivo Construção) - 2 de março de 2014

Os garis do Rio de Janeiro passaram os últimos trinta anos sendo "representados" por um sindicato tão patife que chega a ser um elogio chamá-lo de pelego. Quem o administra é uma corja tão suja quanto a imundície que os garis precisam catar nas ruas, ao enorme custo de suas saúdes. Ela opera em estreita sintonia com os prefeitos da cidade do Rio de Janeiro e possui ligações com a UGT, a central sindical que sustenta o PTB, partido de figuras de conhecida reputação, como Roberto Jefferson, Collor de Mello, Luiz Antônio Fleury Filho e uma complexa máfia paranaense que abarca desde os financistas do falido Bamerindus, como a família Andrade Vieira, como os seus sócios da família Martinez, que fundaram a CNT, lavando dinheiro colorido. 

O "Sindicato de Empregados de Atividades de Asseio e Conservação" está há trinta anos nas mãos dos mesmos canalhas, liderados por uma soturna figura chamada "Meirelles", e por conta de um leal governismo de seus membros, conseguiram bloquear todas as tentativas de paralisações da sofrida categoria. Através de sagazes artimanhas judiciais, do tipo que Collor e Jefferson conhecem bem, a "turma do Meirelles" conseguiu sistematicamente impugnar as chapas de oposição nas eleições sindicais, fazendo-as perder prazos de registro camuflados pelos burocratas. A Chapa 2 das últimas eleições entrou na Justiça contra essa esperteza, mas o processo anda parado e os chefões já fizeram movimentos para neutralizar os adversários, buscando cooptar uns e enganar os demais.
Apesar da sofisticada engenharia de fraudes que mantém a turma do Meirelles há três ininterruptas décadas à frente de uma entidade que em tese representa vinte mil trabalhadores em condições horripilantes, um movimento espontâneo da classe conseguiu se unir para além das imensas dificuldades diárias e lançou-se em grandes manifestações no embalo das jornadas que começaram em junho. Na última terça-feira antes do Carnaval, ao menos dois mil garis saíram às ruas em protesto, e na sexta da mesma semana, eles fizeram um ato em frente à sede do sindicato, na Rua Doutor Satamini, 189, na Tijuca, à partir das 15 horas. O Fórum de Lutas do Rio de Janeiro, do qual o COLETIVO CONSTRUÇÃO faz parte cumprindo um papel decisivo, esteve presente em ambos os eventos, sendo que no ato de sexta foram de imenso valor no auxílio logístico e jurídico aos garis, garantindo a permanência do ato por várias horas, a despeito da presença ostensiva de policiais militares, de pelegos à paisana que fotografavam os articuladores do processo, e de dezenas de malandragens que o presidente do sindicato Luciano buscava armar para desarrumar o delicado esforço. 
Se apossando de um rudimentar megafone do sindicato e de um uma precária caixa de som, os garis pararam boa parte da rua e mantiveram os ânimos da classe em alta, até que, encurralado, o presidente do sindicato, um pelego profissional chamado "Luciano" aderiu, à greve por escrito, por volta das nove da noite, prevendo sua eclosão oficial à meia-0noite de sexta pra sábado e convocando uma Assembléia-Geral para o dia seguinte, ao meio-dia para determinar seus rumos. Com sua assinatura e carimbo, os garis fizeram centenas de cópias do documento para espalhá-los por todas as unidades de trabalho, a fim de paralisar toda a cidade às vésperas do festival de lixo que costuma ser o Carnaval. O COLETIVO CONSTRUÇÃO esteve entre os mais renitentes apoiadores do Fórum de Lutas, participando do ato até seu gradual esvaziamento às dez, onze horas da noite*. 

POR QUE A GREVE DOS GARIS?

Como é que uma das categorias mais exploradas, fisicamente esgotada tanto pela rotina quanto pela própria natureza do trabalho conseguiu arrancar uma greve de um sindicato tão vendido? 
Uma das explicações está na própria resiliência dos trabalhadores. Os garis enfrentam desafios imensos, aguentando as condições mais perversas de trabalho, varrendo sarjetas e raspando calçadas, catando detritos e limpando urinas. Alguns exigências de trabalho são surreais: um gari pode ter sua residência em Santa Cruz e ser destacado para trabalhar na Lapa, apesar de morar a alguns metros de uma unidade da Comlurb. Mesmo percorrendo as horas e horas desgastantes do transporte carioca, esses garis aturam a repreensão patronal por míseros vinte minutos de atraso, para em seguida encarar uma das jornadas de trabalho mais sofridas do proletariado carioca. Determinados e aguerridos, esses trabalhadores valorosos--negros, em sua maioria--não têm medo de enfrentar um sindicato de crápulas em conluio com o prefeito carioca.
Outra explicação está na própria perda de modéstia--como diria Nelson Rodrigues--dos idiotas que controlam o aparelho sindical. Em meio às ameaças de paralisação que rondaram a Comlurb desde o fim de 2013, o sindicato, sem a mais pálida consulta às bases, fez um péssimo simulacro de acordo com o prefeito Eduardo Paes--que os trata como sócios nesse teatro tragicômico--de um reajuste minúsculo que mal obedece as taxas de inflação. Nenhuma das exigências da categoria foi minimamente cogitada, e os garis explodiram numa convulsão espontânea exigindo a extinção dessa gestão sindical asquerosa. Também podemos associar esse salto de qualidade ao peculiar clima nacional constituído a partir das jornadas de maio e junho de 2013, com manifestações e ocupações em todas as partes do País, precipitando uma série de lutas inesperadas e originais. Vale lembrar que os profissionais de Educação do Rio de Janeiro lançaram uma greve que pegou o próprio sindicato de surpresa. A ressurreição do Fórum de Lutas na virada de 2013 pra 2014 ajudou a instrumentalizar essas lutas, e continuará ajudando enquanto o sectarismo e hegemonismo forem derrotados.
Mas há outra explicação para esse sucesso, que é justamente o seu caráter parcial. O sindicato não compareceu à Assembléia de sábado ao meio-dia, e passou o fim-de-semana se articulando com o prefeito Eduardo Paes para desmentir a greve e obter da Justiça uma declaração de sua ilegalidade. Os garis que foram a Assembléia do sábado saíram do sindicato enojados com seus burocratas, mas determinados a seguir o combate, marchando à Prefeitura na Cidade Nova para fechar a Avenida Presidente Vargas e fazer um ato passando rente ao Sambódromo e convocando uma assembléia espontânea para eleger um comando de greve e articulação interna. Esse comando liderou os garis até a Defensoria Pública para derrubar a liminar da juíza--a mesma que já havia dinamitado outra greve de garis a pedido do prefeito Paes.

QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS DA GREVE PARA A ESQUERDA?

Nesse momento temos como, em particular, instrumentalizar essa luta para que pendengas jurídicas e ameaças patronais não arrefeçam o ânimo desses trabalhadores valentes. Colocarmos recursos à disposição dos garis e ajudar o comando de greve e articulação interna a reverter as tramóias arquitetadas pelo imundo prefeito Paes e a fétida "turma do Meireles". As tarefas de todos os sindicatos da luta é disponibilizar suas ferramentas a favor de uma categoria cujo sindicato oficial é tão nocivo quanto os próprios patrões, cedendo megafones, carros de som, kombis, gráficas, microfones e aparelhos de som, auditórios e experiência para tornar essa greve a mais revolucionária do começo do ano. E as tarefas de todos os parlamentares socialistas é descer às ruas para proteger esses garis corajosos do peso aberrante do Estado que começa a reagir na marra o que não conseguiu impedir debaixo dos panos, injetando recursos nessa luta para desmontar o império de sujeira do prefeito Eduardo Paes e dos plutocratas que o financiam.


*Um de nossos integrantes inclusive percorreu a cidade com três garis em busca de um cartório que pudesse registrar o documento conquistado do sindicato, pagando o táxi de seu próprio bolso.

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