Há
tempos, o movimento estudantil da USP se detém em questões que impedem o seu
avanço. A diversidade de opiniões e de organizações que compõem o movimento
hoje gera conflitos debates necessários, e poderia resultar em sínteses muito
qualitativas se não fossem inviáveis. Reivindicamos uma cultura política
que aglutine divergências internas, sem neutralizar as diferenças, e que preze
pelo avanço das pautas do movimento como um todo.

Hoje, a
segregação do movimento estudantil se dá em dois marcos fundamentais e
complementares: o excesso de independência das instâncias do movimento e
minimização da importância de construção coletiva dos que o compõem. O caráter
superestrutural do DCE somado à falta de articulação deste com as demandas da
base dos cursos via centros acadêmicos e a relevância das discussões
congressuais, as debilidades representativas das entidades de bases e o
funcionamento do CCA burocratizam e desgastam o movimento. Sendo assim, tais
instâncias configuram espaços políticos e encaminhativos paralelos, e por vezes
repetitivos, que tendem a não se configurar como instâncias orgânicas mas
meramente formais. Em tamanha dispersão, o movimento toma um caráter
essencialmente reativo, em que fatos políticos graves são necessários para
grandes ascensos de luta.
Por um
outro lado, o proselitismo político é uma ameaça para a configuração de um
movimento cotidiano, coeso, forte e capaz de fazer frente aos ataques da
reitoria em conjunto com trabalhadores e funcionários. Iniciativas como
encaminhamento de eixo principal da mobilização prioritariamente à discussão de
calendário são exemplo de inversão do conteúdo político pela palavra de ordem,
e demonstram uma disputa de poder egoísta, infrutífera e prejudicial.
É tarefa
do movimento fazer balanços dos processos de luta, para avaliação de onde
erramos e onde acertamos. Isso deve ser feito e incorporado de forma coletiva,
sendo as experiências e as formulações de extrema importância para o
apontamento de direções futuras. Muitas vezes no movimento os balanços não são
superados, e alguns grupos se prendem a críticas que não só não farão o
movimento avançar como só ajudam a fragmentar e enfraquecer o movimento. De
fato, os estudantes processados estiveram isolados ao longo do ano passado,
sendo encarregados de toda sua (e nossa) defesa jurídica e luta política. Mas o
início desse ano, com o ato unificado na calourada e demais iniciativas do DCE,
demonstrou que é possível reconstruirmos o movimento para uma real e ampla
campanha contra a repressão. Demais pautas importantes, como o PIMESP, a
reurbanização da São Remo, a divisão da FFLCH, a redução da mobilidade no
campus, acesso e permanência também devem ser campanhas fortes e unificadas.
A partir
desses elementos, é necessário resgatar as pautas da mobilização qual os
estudantes respondem processos hoje. Pautávamos o fim do convênio da USP com a
PM e o “Fora Rodas”, por entendermos que, dentro dessa concepção de
universidade, não são compatíveis tamanhos autoritarismos militaresco e
institucional e que devíamos combate-los politicamente. Um dos nossos
instrumentos históricos de mobilização e reivindicação é a ocupação da
reitoria, que arrancou vitórias importantes para o ME não só da USP como do
Brasil todo. Em 2011, a ocupação da reitoria da USP tinha essas demandas, e
deve ser entendida dentro de sua lógica prática, mas também simbólica. A
ocupação da instância máxima na estrutura de poder da universidade é, para além
de um ato de pressão política, um ato simbólico de ocupação física, política e
cultural de um espaço que nos é renegado. Logo, a utilização democrática de um
espaço essencialmente antidemocrático.

Os
balanços devem ser feitos e as dificuldades superadas, tendo necessariamente de
gerar proposições que nos farão avançar. Para isso, a participação dos fóruns
coletivos de discussão e deliberação é imperativa, bem como a garantia de sua
saúde com o combate às de práticas de autoproclamação e autoconstrução, que
passam por uma diferenciação política rasa e contribuem diretamente para o
sectarismo e a polarização do movimento estudantil, retraindo-o em suas
potencialidades. Precisamos de proposições concretas que possam unificar os
vários coletivos e ativistas em uma luta conjunta por nossos direitos e
interesses comuns, que são a construção de uma universidade pública e de
qualidade com acesso amplo e irrestrito, a serviço das demandas da classe. É
preciso que nos entendamos enquanto movimento social e construamos ferramentas
unificadas de fortalecimento mútuo daqueles que resistem contra os ataques do
Governo do Estado aos seus direitos. Somente avançaremos para a superação das
contradições da universidade pública nos aliando com os trabalhadores e criando
relações concretas que extrapolem a territorialidade do movimento estudantil.
Quando a repressão sofrida é a mesma e o inimigo é comum, nos tornamos mais
fortes com a construção de uma Frente contra a repressão no Estado de São Paulo
e com a ampliação das campanhas contra a repressão e por democratização para o
âmbito nacional do movimento estudantil, colocando-nos lado a lado dos
estudantes da UFMT, UNIR, UNIFESP e tantas outras.
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