sexta-feira, 19 de julho de 2013

Manifestação da Revolta do Busão (Natal-RN) é marcada por violência gratuita da PM.

Eles encurralaram a gente. A gente foi encurralado o tempo todo.”
Lenny Grilo, militante do Coletivo Construção de Natal, 
escreve um relato sobre a manifestação da Revolta do Busão dia 19.07.


     Lembro que cheguei às 16h30 mais ou menos, a concentração acontecia ao lado do shopping Via Direta, como de costume. A galera fazendo cartazes, puxando palavras de ordem, até que aos poucos trancamos as duas vias da BR.

     Enfim, começamos a caminhar. Nós tínhamos duas opções: seguir pela Salgado Filho, ou subir o viaduto e pegar pela Prudente de Moraes. A decisão tomada foi de subir o viaduto, já que de outras vezes fomos encurralados debaixo do viaduto do centenário e a policia brincava de nos massacrar. Subimos pelo viaduto. Lembro da sensação de já esperar o pior lá na frente. Os policiais já começavam a se organizar pra entrar em ação, queriam apenas alguém, alguma coisa, algum motivo. Com a tensão que a policia provocou a nos esperar do outro lado do viaduto e com a presença ilustríssima do estádio ARENA DAS DUNAS - o mais novo elefante branco da cidade, que com placas de “ISSO TUDO É PRA VOCÊS” pedia pra ser atingido de alguma forma, começaram algumas ações diretas – alguns manifestantes começaram a jogar algumas pedras, apenas.

     A policia com toda sua eficiência de criminalizar o movimento procurava alguém à ser detido e conseguiram levar dois. A cena foi patética: mais de 15 policiais levando dois manifestantes. Passado o tumulto, seguimos. Pegamos a direita do estádio, entramos na Prudente de Morais, demos a volta pra chegar na Hermes, evitando que a PM nos encurralasse. Caminhávamos para a Câmara Municipal de Natal, e eu sentia uma sensação horrorosa de ataque surpresa, afinal, estávamos indo pra um lugar da cidade pouco movimentado e a PM facilmente nos trucidaria sem que ninguém visse.   
Extraído do Tribuna do Norte

     Seguimos. Um pouco depois do Shopping Midway, que recentemente teve suas vidraças destruídas, estava a clinica do Sr. Albert Dickson, oftalmologista e presidente da câmara dos vereadores. Um dia antes, esse vereador ordenou que a guarda municipal retirasse a força alguns manifestantes que ocuparam pacificamente a Câmara Municipal de Natal - as cenas foram marcadas de truculência envolvendo agressões de mulheres e ataques animalescos, assustadores, absolutamente desnecessários e gratuitos, considerando que no momento em que começaram a tirar os manifestantes eles estavam terminando de fechar um acordo com o tal presidente. Enfim, não vi o estado em que a clinica ficou, mas disseram que ela estava abaixo. Uma pena (risos). 

     Seguimos pela Hermes, indo de encontro aos ataques mais fortes. Não lembro exatamente onde tudo começou, eu só consigo me lembrar do tumulto, de ver a tropa de choque partindo pra cima; todo mundo correndo, uma hora estavam a nossa frente, outra hora estávamos sendo atacados pelas costas, eles estavam por toda parte! Minha lembrança mais nítida é a do desespero de perder minhas companheiras de vista, delas ficarem soltas naquele cenário de pânico, de alguém se machucar, ainda mais.  

     Eles jogavam bombas de gás lacrimogêneo pro alto, e corriam atrás de nós,  nos protegíamos como dava: atrás de carros, em postos, e tentávamos ficar unidos, na medida do possível. Perdemos companheiros de vista em vários momentos. Vimos pessoas chorando, gente desmaiando, passando mal do gás que eles jogavam aos montes. Muitas vezes,  os policiais se colocam em formação e pareciam sem saber pra onde ir, ziguizagueando, confusos, jogando bombas pra cima, bombas que caíam em arvores, talvez tenham caído dentro das casas... não era possível entender aquilo como uma ação organizada.

     Os manifestantes já estavam todos dispersos, vários grupos se dividiram, alguns partidos se retiraram, era gente pra todo lado. Ficamos em um grupo que seguiu pela Rio Branco, Centro da Cidade, que teve lojas e bancos destruídos. Nesse momento a policia não estava por perto, mas quando chegamos próximos a rua estreita, a PM aparece aos montes! Carros e carros, mais uma vez, tentando encurralar os manifestantes, nós conseguimos fugir, e depois tentamos encontrar outros grupos. Paramos em um bar, que era em outro beco, a policia mais uma vez deu as caras. Revistou as bolsas dos rapazes, e ainda levaram dois detidos. Saímos desse bar e seguimos... Encontramos outro grupo, numa praça, e eles nos disseram que havia cerca de 200 manifestantes em frente a Câmara, decidimos então seguir. Quando chegamos vimos um ônibus do BOPE, um ônibus! E muitos carros da policia. Alguns manifestantes estavam sentados no chão, outros cantando, outros averiguando a situação, analisando os riscos de ficar ali. Pouco tempo depois os carros do BOPE e da PM se multiplicaram de uma forma absurda.

     A Câmara estava cercada de tapumes e cerca elétrica, inviabilizando que ocupasse. Com receio de ficar ali e a polícia atacar novamente, avaliamos que era melhor ir embora, já nos preparando para as próximas lutas que certamente virão. Para além das pautas já delimitadas pelo movimento Revolta do Busão, é imprescindível que lutemos contra a criminalização dos movimentos sociais. De nossos governantes esperamos respostas quanto às reivindicações legítimas de saúde, educação, moradia, segurança e transporte, e não que se escondam atrás de seus cães de guarda. A truculência da polícia presente hoje pelas ruas da cidade não devem ser toleradas ou tornar evento cotidiano. Desmilitarização JÁ!

"E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo 
para que a justiça social se implante antes da caridade”. 
Paulo Freire

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