domingo, 24 de junho de 2012

Um Desabafo*



Campinas, 21 de outubro de 2011.
           
         Venho a escrever este desabafo em um momento em que as palavras me consomem por dentro, depois de ver tanta violência, seja esta de qualquer natureza, me sinto mobilizado e emocionalmente instigado a dizer alguma coisa. De certa forma todas estas palavras estavam já há muito tempo presas em minha garganta, e através de um novo mundo do qual estou me deparando, acho as frases certas que podem descrever de maneira completa o meu sentimento.
          Sinceramente não consigo entender como as pessoas conseguem conviver consigo mesmas hoje em dia, sem ao menos olhar para o lado. Tenho estudado e me informado, debatido e crescido, e me deparei com um muro de concreto, duro e nada maleável, que é extremamente difícil de ultrapassar, impossível de ignorar. Pode ser que seja apenas eu, mas me importo em algum nível com as outras pessoas, com o rumo com o que a sociedade está tomando. Não digo todos, mas grande parte da nossa queridíssima sociedade não enxerga, ou pior, não quer enxergar o caminho de violência moral e física que sofremos dia-a-dia. As pessoas se importam em comprar roupas, acessórios, acumular dinheiro e assim chegar algum dia ao almejado status de ser “bem sucedido”, à burguesia. Enquanto isto, outros estão passando fome, roubando e matando por não terem a mesma oportunidade que alguns poucos pensam ser “natural”, pois ganharam, não são dignos de meritocracia alguma, sempre viveram essa realidade.
      O problema está no grupo que rege as vontades a serem manifestadas, as felicidades a serem compradas, a religião a ser seguida, o caminho a ser trilhado, a burguesia. Este resultado é fruto de um processo histórico que vem acontecendo há muito tempo, desde o surgimento, ou ainda mesmo antes, do capitalismo - “A história da humanidade é a história da luta de classes” - Marx. Acredito que as pessoas de hoje não são as responsáveis por tudo isso, mas são pelo fato desta realidade ainda não mudar, adquiro um posicionamento crítico com os que não fazem nada, e nem querem fazer, fadados e acomodados à alienação.
          O capitalismo trilhou a isso, valorizou a individualidade a tal ponto que se criou uma “desumanização”. Hipócritas são os que contribuem com isso se autodenominando “homens direitos”. Todas as cidades do Brasil, quiçá do mundo, sofrem com o produto da diferença de classes, estou cansado de ver violência contra pessoas, agressões físicas, roubos, estupros, e tudo mais que a sociedade “se acostumou” a ver. Pois eu não consigo aceitar que tais brutalidades sejam incorporadas na nossa sociedade e vistas como algo do cotidiano, tudo isto não é cotidiano, tudo isto são erros gritando na cara de cada um e mostrando a todos de maneira explicita que tem alguma coisa errada, aliás, não alguma coisa apenas, mas sim todo um mundo de erros. E ainda conheço pessoas que aceitam e apóiam isso, não enxergam que o tão grandioso capitalismo destrói a cada dia mais os seus próprios criadores.
          Estou cansado, é isso que vem a minha cabeça a todos os momentos, eu estou cansado de tudo isso, da correria, da pressa, da competição acima de tudo, do sofrimento geral, e enquanto o homem não funcionar pelo amor, pela igualdade, as coisas continuarão assim. As pessoas precisam conscientizar-se da situação que estão vivendo, sair do “automático”, dessa infeliz e brutal alienação; e realmente olhar, escutar, dar atenção ao caminho que está sendo trilhado, será verdadeiramente esta realidade que você quer? O que você faria se pudesse ser e fazer o que quisesse, independentemente de dinheiro, de preconceitos, de quaisquer outros impedimentos que venham a sua cabeça? Será que você realmente teria a vida que tem? Será que teria o emprego que tem? Será que seria amigo das pessoas que é?
        Questione-se, questione o mundo, as pessoas, e tudo ao seu redor, quem sabe você não acha uma realidade que realmente lhe faça sentido, uma que realmente lhe faça feliz, apesar de todos os apesares. As pessoas que você e a sociedade inteira criticam são as pessoas que fizeram isso, e hoje lutam por algo que acreditam, será que essas pessoas realmente são “inimigas” e dignas das acusações que lhes fazem?

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.
Che Guevara

Obrigado.

*Guilherme S. Arinelli é estudante de Psicologia na PUC-Campinas, começou a participar do grupo de discussão sobre marxismo, o GMARX, em 2011 e entrou recentemente no Coletivo Construção.

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