Por
Bruno Ruivo (Coletivo Construção) - 2 de março de 2014
Os garis do Rio de Janeiro
passaram os últimos trinta anos sendo "representados" por um
sindicato tão patife que chega a ser um elogio chamá-lo de pelego. Quem o
administra é uma corja tão suja quanto a imundície que os garis precisam catar
nas ruas, ao enorme custo de suas saúdes. Ela opera em estreita sintonia com os prefeitos da cidade do
Rio de Janeiro e possui ligações com a UGT, a central sindical que sustenta o
PTB, partido de figuras de conhecida reputação, como Roberto Jefferson, Collor
de Mello, Luiz Antônio Fleury Filho e uma complexa máfia paranaense que abarca
desde os financistas do falido Bamerindus, como a família Andrade Vieira, como
os seus sócios da família Martinez, que fundaram a CNT, lavando dinheiro
colorido.
O
"Sindicato de Empregados de Atividades de Asseio e Conservação" está
há trinta anos nas mãos dos mesmos canalhas, liderados por uma soturna figura
chamada "Meirelles", e por conta de um leal governismo de seus
membros, conseguiram bloquear todas as tentativas de paralisações da sofrida
categoria. Através de sagazes artimanhas judiciais, do tipo que Collor e
Jefferson conhecem bem, a "turma do Meirelles" conseguiu
sistematicamente impugnar as chapas de oposição nas eleições sindicais,
fazendo-as perder prazos de registro camuflados pelos burocratas. A Chapa 2 das
últimas eleições entrou na Justiça contra essa esperteza, mas o processo anda
parado e os chefões já fizeram movimentos para neutralizar os adversários,
buscando cooptar uns e enganar os demais.
Apesar
da sofisticada engenharia de fraudes que mantém a turma do Meirelles há três
ininterruptas décadas à frente de uma entidade que em tese representa vinte mil
trabalhadores em condições horripilantes, um movimento espontâneo da classe
conseguiu se unir para além das imensas dificuldades diárias e lançou-se em
grandes manifestações no embalo das jornadas que começaram em junho. Na última
terça-feira antes do Carnaval, ao menos dois mil garis saíram às ruas em
protesto, e na sexta da mesma semana, eles fizeram um ato em frente à sede do
sindicato, na Rua Doutor Satamini, 189, na Tijuca, à partir das 15 horas. O
Fórum de Lutas do Rio de Janeiro, do qual o COLETIVO CONSTRUÇÃO faz parte
cumprindo um papel decisivo, esteve presente em ambos os eventos, sendo que no
ato de sexta foram de imenso valor no auxílio logístico e jurídico aos garis,
garantindo a permanência do ato por várias horas, a despeito da presença
ostensiva de policiais militares, de pelegos à paisana que fotografavam os
articuladores do processo, e de dezenas de malandragens que o presidente do
sindicato Luciano buscava armar para desarrumar o delicado esforço.
Se
apossando de um rudimentar megafone do sindicato e de um uma precária caixa de
som, os garis pararam boa parte da rua e mantiveram os ânimos da classe em alta,
até que, encurralado, o presidente do sindicato, um pelego profissional chamado
"Luciano" aderiu, à greve por escrito, por volta das nove da noite,
prevendo sua eclosão oficial à meia-0noite de sexta pra sábado e convocando uma
Assembléia-Geral para o dia seguinte, ao meio-dia para determinar seus rumos.
Com sua assinatura e carimbo, os garis fizeram centenas de cópias do documento
para espalhá-los por todas as unidades de trabalho, a fim de paralisar toda a
cidade às vésperas do festival de lixo que costuma ser o Carnaval. O COLETIVO
CONSTRUÇÃO esteve entre os mais renitentes apoiadores do Fórum de Lutas,
participando do ato até seu gradual esvaziamento às dez, onze horas da noite*.
POR QUE A GREVE DOS GARIS?
Como é
que uma das categorias mais exploradas, fisicamente esgotada tanto pela rotina
quanto pela própria natureza do trabalho conseguiu arrancar uma greve de um
sindicato tão vendido?
Uma das
explicações está na própria resiliência dos trabalhadores. Os garis enfrentam
desafios imensos, aguentando as condições mais perversas de trabalho, varrendo
sarjetas e raspando calçadas, catando detritos e limpando urinas. Alguns
exigências de trabalho são surreais: um gari pode ter sua residência em Santa
Cruz e ser destacado para trabalhar na Lapa, apesar de morar a alguns metros de
uma unidade da Comlurb. Mesmo percorrendo as horas e horas desgastantes do
transporte carioca, esses garis aturam a repreensão patronal por míseros vinte
minutos de atraso, para em seguida encarar uma das jornadas de trabalho mais
sofridas do proletariado carioca. Determinados e aguerridos, esses
trabalhadores valorosos--negros, em sua maioria--não têm medo de enfrentar um
sindicato de crápulas em conluio com o prefeito carioca.
Outra
explicação está na própria perda de modéstia--como diria Nelson Rodrigues--dos
idiotas que controlam o aparelho sindical. Em meio às ameaças de paralisação
que rondaram a Comlurb desde o fim de 2013, o sindicato, sem a mais pálida
consulta às bases, fez um péssimo simulacro de acordo com o prefeito Eduardo
Paes--que os trata como sócios nesse teatro tragicômico--de um reajuste
minúsculo que mal obedece as taxas de inflação. Nenhuma das exigências da
categoria foi minimamente cogitada, e os garis explodiram numa convulsão
espontânea exigindo a extinção dessa gestão sindical asquerosa. Também podemos
associar esse salto de qualidade ao peculiar clima nacional constituído a
partir das jornadas de maio e junho de 2013, com manifestações e ocupações em
todas as partes do País, precipitando uma série de lutas inesperadas e
originais. Vale lembrar que os profissionais de Educação do Rio de Janeiro
lançaram uma greve que pegou o próprio sindicato de surpresa. A ressurreição do
Fórum de Lutas na virada de 2013 pra 2014 ajudou a instrumentalizar essas lutas,
e continuará ajudando enquanto o sectarismo e hegemonismo forem derrotados.
Mas há
outra explicação para esse sucesso, que é justamente o seu caráter parcial. O
sindicato não compareceu à Assembléia de sábado ao meio-dia, e passou o
fim-de-semana se articulando com o prefeito Eduardo Paes para desmentir a greve
e obter da Justiça uma declaração de sua ilegalidade. Os garis que foram a
Assembléia do sábado saíram do sindicato enojados com seus burocratas, mas
determinados a seguir o combate, marchando à Prefeitura na Cidade Nova para
fechar a Avenida Presidente Vargas e fazer um ato passando rente ao Sambódromo
e convocando uma assembléia espontânea para eleger um comando de greve e
articulação interna. Esse comando liderou os garis até a Defensoria Pública
para derrubar a liminar da juíza--a mesma que já havia dinamitado outra greve
de garis a pedido do prefeito Paes.
QUAIS SÃO AS
PERSPECTIVAS DA GREVE PARA A ESQUERDA?
Nesse
momento temos como, em particular, instrumentalizar essa luta para que pendengas
jurídicas e ameaças patronais não arrefeçam o ânimo desses trabalhadores
valentes. Colocarmos recursos à disposição dos garis e ajudar o comando de
greve e articulação interna a reverter as tramóias arquitetadas pelo imundo
prefeito Paes e a fétida "turma do Meireles". As tarefas de todos os
sindicatos da luta é disponibilizar suas ferramentas a favor de uma categoria
cujo sindicato oficial é tão nocivo quanto os próprios patrões, cedendo
megafones, carros de som, kombis, gráficas, microfones e aparelhos de som,
auditórios e experiência para tornar essa greve a mais revolucionária do começo
do ano. E as tarefas de todos os parlamentares socialistas é descer às ruas
para proteger esses garis corajosos do peso aberrante do Estado que começa a
reagir na marra o que não conseguiu impedir debaixo dos panos, injetando
recursos nessa luta para desmontar o império de sujeira do prefeito Eduardo
Paes e dos plutocratas que o financiam.
*Um de nossos integrantes inclusive percorreu a cidade com três garis em busca de um cartório que pudesse registrar o documento conquistado do sindicato, pagando o táxi de seu próprio bolso.
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