Por
Felipe Alencar, Coletivo Construção São
Paulo, DCE Unifesp e Centro Acadêmico de Pedagogia da Unifesp
Policial dispara tiros de bala de
borracha
|
As jornadas de junho mostraram a toda uma nova
geração de lutadores que nossa intervenção direta nas ruas pode trazer
resultados e garantir transformações. Ainda que tenhamos muitas vitórias
herdadas de junho, temos que tirar lições para termos uma luta cada vez mais
unificada e uma pauta mais clara, para avançarmos.
Como parte dessas lições, podemos ver a onda de
repressão contra vários setores do movimento que prosseguem na luta, como os
professores do Rio de Janeiro, assim como no período da Copa das Confederações,
os conflitos na Aldeia Maracanã, e as próprias jornadas contra o aumento da
passagem em vários estados, Brasil afora. Toda essa repressão significa
desespero dos governos, para tentar conter a qualquer custo a nossa
insatisfação.
Por
que o Estado reprime?
Um aprendizado que tiramos é que o ascenso das
mobilizações provoca dois tipos de reação nos governos, quando percebem o
crescimento de uma ofensiva massificada de oposição:
1)
optam pela cooptação, procurando
iludir o povo e convencê-lo de mentirosas medidas reformistas para ganhá-lo
para o seu lado, esfriando as lutas. Nisso, podemos ver o papel que a UNE tem
cumprido, quando se coloca como voluntária à Copa do Mundo, que só trouxe
remoções forçadas de moradias, especulação imobiliária, acordos absurdos de
relação público-privado, e a contratação de vários policiais para garantir a
“segurança do evento”;
2)
simplesmente aplicam medidas
antidemocráticas, herdeiras de governos totalitários, como a repressão e a
criminalização contra aqueles que lutam.
Isso nos faz pensar que, quando não consegue
cooptar setores do movimento para ficarem bem comportadinhos, do outro lado da
trincheira, a opção dos governos é simplesmente dar um show de repressão com o
dinheiro que deveria ir para educação, saúde, transporte, cultura e moradia, mas
que na verdade, quando não fica nos caixas de banqueiros, financia a
militarização da polícia: gás lacrimogêneo, tanques, Tropa de Choque, bombas de
efeito moral, armas de bala de borracha etc.
Quem
o Estado reprime?
Uma coisa a esclarecer é que o Coletivo Construção
discorda da velha lorota de que há um golpe militar ou um golpe fascista. O que
acontece é que os Governos estão tremendo na base, por verem que o movimento
avança e quanto mais repressão, mais combativo ele fica.
O estudante Vitor Araújo fazia a cobertura de um ato quando foi atingido no olho direito por estilhaços de uma bomba lançada pela polícia. Foto: Mídia Ninja |
Somos contra todo tipo de repressão a qualquer
setor do movimento, mas é importante observar que as organizações reprimidas
são aquelas que são contra a ordem estabelecida. Seja o Black Bloc, movimento
popular, trabalhadores em greve e a juventude que vai às ruas para protestar.
E o Estado, dominador de vários aparelhos
ideológicos, usa suas máquinas para que sejam forjados os discursos que
distorcem a pauta do movimento para a população. A própria mídia burguesa
corporativista transmitiu, com bastante sensacionalismo, que a agenda de muitas
prefeituras tem sido solicitar o expediente da Polícia Militar, instituição
resquício da ditadura, para atuar na repressão e dispersão dos movimentos. Após
também ter sido atingida pela PM, a imprensa, que antes nos taxava de grupos
‘radicais’, ‘vândalos’ e ‘baderneiros’, passou a publicizar a violência
policial. Tal mudança de discurso, é claro, durou pouco e logo se ‘readequou’
aos moldes da sociedade a que ela serve para manter.
Por
um Encontro Nacional dos Movimentos que organize a luta contra a repressão!
Família do Amarildo, Pedreiro torturado e assassinado pela polícia da UPP da Rocinha. |
O momento atual é de termos unidade nos setores
combativos, para construirmos um grande Encontro dos Movimentos, em que um dos
eixos seja a luta contra a repressão e a criminalização. O Coletivo Nacional
Construção coloca a disposição para a unidade.
A luta contra a repressão e o debate sobre a
criminalização dos movimentos é imprescindível para que se garanta a unidade e
a continuidade das lutas: muitos ativistas de movimentos populares e coletivos
de esquerda combativos prosseguem sendo duramente reprimidos, presos,
perseguidos e até ameaçados de morte.
Precisamos orientar nossas lutas não somente para
questionar a contraditória “democracia” na sociedade brasileira, que mata
Ricardos, some com Amarildos e atualmente reprime os trabalhadores da educação
no Rio de Janeiro, e que funciona para garantia dos privilégios de poucos.
Devemos incluir em nossas palavras de ordem que
lutar não é crime, combatendo este golpe de repressão e criminalização contra
aqueles que se organizam para lutar, pelos que morrem, pelos que somem e por
tantas outras indignações. Continuaremos lutando!!!
- Por um Encontro Nacional dos Movimentos, pela unidade dos que lutam!
- Não à criminalização dos movimentos sociais!
- Pela desmilitarização da polícia, já!
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