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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Há muito além dos dois grandes blocos que aparecem no ME da USP – como chegar a uma síntese para avançar nas lutas?

A divisão do ME da USP em dois blocos que pouco dialogam entre si não é natural. As questões são bastante mais complexas que essa divisão e precisam ser analisadas de forma mais global. Assim como as respostas que o movimento precisa não virão através de uma polarização que não avança para nenhum tipo de síntese.
O ME da USP já teve vitórias suficientes e deve sair da greve e da ocupação? Ou ainda não conseguiu nada daquilo que reivindicava e precisa continuar na mobilização lutando para que as pautas iniciais sejam alcançadas?
Discursos derrotistas que não reconhecem os nossos avanços trazem acúmulo negativo para o movimento. Por outro lado não podemos afirmar que tivemos vitórias em todas as pautas. Não atingimos objetivos centrais, como as eleições diretas para reitor, mas vemos no congresso a oportunidade de pressionarmos novamente a burocracia universitária, com um movimento ainda mais forte, influenciado pelos avanços que estamos conquistando para obter essas vitórias. É importante analisarmos essas contradições mais detalhadamente antes de decidirmos sair ou não da greve, e em quais condições.
O movimento tem vitórias?
Antes de tudo, é importante uma análise precisa do momento em que estamos. O documento do acordo proposto pela reitoria traz alguns avanços concretos para o ME. Propuseram sobre pontos que constavam em nossa pauta e também sobre assuntos que são reivindicações históricas, mas que não apareceram entre os eixos atuais. Não pode haver dúvidas de que o simples fato de a reitoria sentar para negociar já é em si uma vitória, visto que isso não acontecia antes. Se fosse apenas isso, seria uma vitória pequena, que se referiria apenas ao reconhecimento da legitimidade que o movimento impôs à reitoria.
Mas conseguimos alguns pontos a mais, não somente a negociação. Conseguimos um Congresso, que não é aquele que queríamos, mas também não é aquele que a reitoria queria. Conseguimos um instrumento de união com o movimento dos funcionários através da vinculação do aumento das bolsas. Conseguimos promessas de reaver os blocos perdidos da moradia e de não demolição do NCN. E vários outros pontos que historicamente a reitoria se negava a conceder. Não tivemos a conquista completa dos eixos principais, mas não é verdade dizer que não tivemos vitórias.
É bastante provável que a reitoria, se aceitarmos o termo proposto, volte atrás e tente não cumpri-lo, ou imponha uma interpretação distorcida do acordo para que não precise se comprometer com alguns dos pontos. Isso, porém, é uma contingência do próprio momento em que estamos das lutas: a garantia não se dará de outra forma senão através da nossa aceitação do termo e da continuidade da mobilização posteriormente para cobrar o cumprimento. O fato de a reitoria poder não cumprir o prometido não tira o mérito das vitórias. Porém, o fato de termos vitórias não é tudo.
Qual o saldo que essa mobilização pode deixar?
Para conseguirmos cobrar o cumprimento dos pontos do termo e ainda avançar para mais conquistas, é importante termos força para, por exemplo, fazer um movimento da mesma magnitude ou maior que o que tivemos esse ano. A própria questão de a estatuinte ser ou não soberana vai depender, mais do que do acordo atual, da mobilização que tivermos no próximo ano, durante o CO que pode decidir sobre o novo estatuto. Ela é quem vai determinar se é o estatuto da comunidade USP ou se o do CO vai valer. Há alguns elementos que contribuem para aumentarmos essa força nas próximas mobilizações, outros que jogam contra.
Uma lista de vitórias importantes do movimento, ainda que não dos eixos centrais, ajuda a mostrar que a luta é efetiva e a combater os setores que são contra a mobilização. A lista de concessões proposta pela reitoria já ajudou o debate nesse sentido em muitos lugares e pode cumprir esse papel de mostrar que tivemos, sim, vitórias.
Por outro lado, punições dos envolvidos com a ocupação, assim como uma reintegração de posse violenta nessa altura das coisas, seria um fato que nos desmoralizaria e ajudaria o Rodas a se colocar no lugar a que foi chamado: de destruir o ME sem fazer concessões.
Como a reitoria joga
Nosso reitor conhece de alguma forma a dinâmica do movimento e foi colocado no cargo que hoje ocupa centralmente para pensar em como nos desarticular e destruir. Ele pensa muito bem em cada movimento que faz junto a nós. Apesar de nossa mobilização ter sido muito forte e em muitos momentos ter deixado a reitoria completamente perdida e sem saber o que fazer (como foi bem claro quando pediram a desocupação da torre do relógio), eles continuaram tentando nos derrotar mesmo depois que conseguimos alguns avanços.
Houve três movimentos coordenados da reitoria, que o movimento não percebeu com clareza.
Um deles foi fazer uma lista de propostas de concessão que dividiria o movimento. A reitoria tenta dividir os dois setores que em 2011 estavam separados e que, por isso, permitiram que o choque entrasse aqui para uma reintegração de posse extremamente violenta. Para isso, fez uma lista de propostas muito boas, juntando reivindicações atuais parcialmente atendidas com reivindicações históricas, ao mesmo tempo em que se esquivou de tomar posição sobre pautas centrais, que foram a da repressão e da soberania da estatuinte. Claramente isso poderia dividir o movimento.
Os outros dois movimentos foram: ao mesmo tempo em que fez a proposta colocada, voltou a negar qualquer negociação; e pediu novamente a reintegração de posse do prédio ocupado. A divisão do movimento e uma reintegração violenta podem fazer com que as vitórias tenham um peso menor ou até retrocedam.
Portanto, é central que nesse momento nós combatamos essa divisão em dois grupos antagônicos, e que dialoguemos de forma a avançarmos juntos para consolidar as conquistas que temos. A luta política é um local em que a legitimidade e a moral de cada lado perante o senso comum pode valer mais do que a quantidade ou o tamanho dos avanços sobre o adversário. Em um jogo de futebol fazer o último gol, no final do jogo, dá algum moral ao time, mesmo que esteja perdendo. Na nossa disputa com o Rodas, não podemos dar a ele a vantagem de fazer um gol aos 45 do segundo tempo.
Como consolidar as conquistas?
Estamos em um momento difícil. Ao mesmo tempo em que temos uma vitória suficientemente grande para sairmos da greve e da ocupação, há ainda um ponto que não foi atendido, sem o qual o movimento corre um grande risco de perder muito no próximo período e de não ter tanta força nas próximas mobilizações: a pauta das punições. Quando uma greve está completamente capenga e sem força, não temos opção senão encerrarmos o movimento sem garantias de não punição. Não é o caso atual.
A mobilização em que estamos arrancou concessões antes quase impensáveis da reitoria e, apesar de muitos cursos terem saído da greve, a mobilização continua, assim como o apoio às ações do movimento. A fraqueza terminal não é um motivo para não brigarmos pela garantia de não punição. Sair da greve e da ocupação com a o termo atual assinado e com um termo de não punição seria hoje o único movimento que poderia fortalecer uma promessa de voltarmos no próximo ano.
Ora, mas com o movimento dividido entre dois lados – um que ignora as conquistas que tivemos e outro que ignora a importância de um termo de não punição para a continuidade das lutas – não conseguiremos avançar para esse ponto necessário. Além disso, a própria divisão do movimento nessa disputa sem diálogo e sem disposição para chegar a uma síntese ajuda na desmoralização de toda a nossa luta.
Devemos, nesse momento crucial, mostrar à reitoria que estamos juntos e, garantindo o termo já proposto, condicionar a saída da greve e da ocupação à garantia da não punição.

· Consolidar as conquistas já obtidas pelo movimento para podermos avançar! Preparar uma mobilização no próximo ano para obrigar a reitoria a reconhecer a estatuinte da comunidade USP como soberana!
· Unificar o movimento e continuar a mobilização até que a reitoria garanta a não punição dos lutadores!

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